quarta-feira, 4 de maio de 2016

A armadilha do "e se(...)"


Há uns anos (2009/2010, para ser mais precisa), quando foi lançado o filme Avatar, lembro-me de ter lido e ouvido em um podcast algumas matérias chocantes relativas à película dirigida por James Cameron. Um número significativo de pessoas, especialmente jovens, e que, na verdade, deveria ter sido nulo, cometeram suicídio porque jamais conseguiriam viver em um mundo tão perfeito quanto Pandora, o planeta fictício onde o filme é ambientado.
Usei um exemplo extremo, obviamente, envolvendo depressão agravada, e nesse caso é preciso um olhar atento e pedir ajuda, mas quantas vezes não nos pegamos pensando em como as coisas seriam se fossem diferentes? Quantos "e se(...)" repetimos à exaustão quando a realidade não nos agrada ou é dura demais para ser encarada?
"E se eu tivesse comprado a blusa preta ao invés da branca?"
"E se meu último namoro não tivesse terminado ainda?"
"E se tivesse aceitado aquele emprego em outro estado?"
É claro que é bom (até importante, eu diria) considerar possibilidades, porém, apenas quando futuras. Talvez até seja um exercício para a imaginação pensar no que poderia ter acontecido, mas sem se esquecer de que (in)felizmente jamais sairá do status de "e se(...)". O presente é a única coisa que temos, e, ainda assim, nem dele podemos ter absoluta certeza. A vida pode tomar um rumo totalmente inesperado da noite pro dia.
Precisamos parar de perder tantas oportunidades de aprender com o presente enquanto ainda estivermos presos às possibilidades, sem focar no que é real ou até no que efetivamente já é passado. Somos levados a essa terrível mania de só querermos aquilo que não temos, inclusive memórias que não existem. "E se(...)" é uma armadilha de urso, e é importante tomar cuidado aonde se pisa para não prender o pé no passado.